Advogado é advertido em audiência por comportamento misógino contra juíza e advogada
Em sua fundamentação, a magistrada ressaltou o “tom de voz alterado e as gesticulações excessivas e agressivas” dele ao se dirigir à advogada da parte oposta, Lara Nogueira, e, posteriormente, a ela mesma.
O comportamento de um advogado durante uma audiência trabalhista chamou a atenção da juíza Jeovana Cunha de Faria, da 4ª Vara do Trabalho de Goiânia (GO), motivando-a a realizar uma advertência. Em sua fundamentação, a magistrada ressaltou o “tom de voz alterado e as gesticulações excessivas e agressivas” dele ao se dirigir à advogada da parte oposta, Lara Nogueira, e, posteriormente, a ela mesma. Foi enfatizado que “comportamentos congêneres não serão tolerados, tal como indicado no bojo da ata de audiência, situação em que serão tomadas todas as providências legais cabíveis à espécie”.
A advogada solicitou ao outro advogado da parte oposta que deixasse de usar o celular durante a audiência. A juíza reforçou o pedido, pedindo que usasse apenas em caso de urgência. A partir disso, ele “alterou o tom de voz, começou a gesticular de forma agressiva e passou a se dirigir à sua colega pelo nome, sem a aposição da palavra doutora, e afirmou que ela estava insultando que ele estava fazendo algo de errado enquanto mexia no celular”, descreve a ata.
A magistrada interferiu, pontuando que a advogada Lara Nogueira estava apenas cumprindo o seu papel, falando baixo e com educação, não havendo motivo para tal comportamento. Diante do alerta, o advogado respondeu, dizendo que “o mundo está muito chato mesmo”.
“A referida afirmação reverbera o desrespeito que graça na sociedade em relação às mulheres e ao direito das minorias, pois, ao clamarem por tratamento condigno, são deslegitimadas por meio da referida estratégia”, fundamentou a juíza. Ela recorreu, ainda, a uma reflexão da professora da Universidade Presbiteriana Mackenzie e jornalista Gabriela Prioli sobre a questão, que diz:
“É mimimi reclamar de racismo estrutural num país em que os negros estão sobrerrepresentados entre os que vivem abaixo da linha da pobreza, os jovens negros são as vítimas preferenciais da polícia e, no ano passado, as mulheres negras receberam 44,4% do salário dos homens brancos. Aliás, é mimimi discorrer sobre dados de violência contra a mulher no Brasil”.
Em vista do pedido de desculpas que o advogado realizou na ocasião, tanto em relação à advogada, quanto em relação à magistrada, Jeovana Cunha de Faria considerou suficiente a advertência realizada por ela na audiência. (Vinícius Braga)